Antimídia - um mosquito no ouvido da mídia

Há cinco anos na estrada, destruindo aparelhos televisores no palco, queimando fotos de padres e pagodeiros e, lógico, tocando sons com influência de Crude SS, Dead Kennedys, Toy Dolls, Cólera, entre outras, a turma da banda de hardcore Antimídia acredita na máxima do underground do it yourself (ou se preferirem, faça você mesmo) e está lançando o primeiro CD pra valer, além de uma coletânea com mais cinco bandas!
O Total Punk conversou com o baterista Luiz, agora o único integrante da formação original da banda e, num papo descontraído, o dono das baquetas do Antimídia revelou que a banda quer ser um mosquito nos ouvidos da mídia e que usariam a televisão para exibir o fuzilamento de profissionais da mídia que contribuem para a formação de futuros idiotas.
Quer saber mais? Então leia a entrevista!


Total Punk: Quando, onde e com quais integrantes a banda começou?
Luiz:
Bom, a banda foi fundada em novembro de 1999, na época era um trio, a fim de tocar punk rock. A formação era: Luiz (bateria), Chapolin (baixo) e Juca (guitarra e vocal).

TP: De quem partiu a idéia de montar a banda?
Luiz: Pois é a gente já estava com essa idéia há alguns meses e nunca a amadurecíamos, um dia resolvemos juntar os três para fazer um ensaio e ver no que ia dar. A gente só tinha a mesma vontade que era tocar e estávamos a fim de montar uma banda que não falasse de política, guerra e essas coisas todas. Todos nós tínhamos algo em comum, ligar a TV e nos enojarmos com o que víamos: bundas, pagodeiros, programas de auditório explorando miseráveis.

TP: O nome da banda me parece óbvio, mas a pergunta é inevitável: Como vocês escolheram o nome Antimídia?
Luiz: o nome sintetiza tudo o que sentimos pelos meios de comunicação de massa como TV e rádio.

TP: Já voltaremos à questão da mídia, mas antes quero saber: em cinco anos, a banda já passou por várias modificações na formação, quantas pessoas já passaram pela banda? Diga todas as faces que a banda já teve:
Luiz: Não muitas. O primeiro guitarrista ficou apenas no primeiro ensaio, logo em seu lugar entrou o Rodrigo, que assumiu o vocal e a guitarra.

TP: Mas não teve só essa modificação...
Luiz: Não... A banda teve um racha e alguns meses depois voltou com o Chapolin no baixo eu na bateria, Cris na guitarra e David (ex-Vaginocídeo) nos vocais. O Chapolin saiu da banda no meio do ano e o André entrou no lugar dele.

TP: Como surgiu a idéia de destruir aparelhos de TV durante as apresentações? Vocês já tiveram problemas por conta disso?
Luiz: Quebrar aparelhos de tv é o ápice do protesto contra esses programas que banalizam a cultura e a violência.

TP: Mas vocês nunca tiveram problemas por causa disso?
Luiz: As pessoas não ligam para esse tipo de protesto, suja um pouco, mas as pessoas sempre curtem, até nos pedem pra levarmos tv’s para serem quebradas no palco.

TP: Então isso virou uma marca do Antimídia?
Luiz: sim, assim como pôr fogo em fotos de padres de grife, pagodeiros e apresentadores de TV.

TP: A postura “anti” é notada inclusive no release de vocês, quando é dito que a banda foi formada por pessoas comuns (nenhum artista). Porque enfatizar isso?
Luiz: Porque somos anônimos, pessoas comuns. Não somos artistas e gostamos de deixar isso bem claro. A gente navega na contramão, enquanto todos querem ser pop stars, querem se dar bem fazendo música, a gente só quer levar nosso protesto e nossa indignação.

TP: Mas normalmente quem toca hardcore e punk rock não quer ficar famoso. O underground é feito por pessoas comuns ou não?
Luiz: Essa história de underground para alguns já não existe mais. Estão aí em programas de TV. Não há a intenção em nos tornarmos famosos. Fama é estado de espírito, ilusão, depois que acaba você volta pro ostracismo. A gente nunca pensou em aparecer tanto, mesmo porque somos politicamente incorretos, feios e não dá para se aproveitar como um vaso em programa de auditório ou para sair pelado em alguma revista gay. Então preferimos continuar sendo pessoas normais vivendo sob a manipulação desse universo paralelo, mas nunca nos calando.
É difícil imaginar que o que pensamos e falamos nas letras das músicas pode surtir efeito num país onde uma emissora de TV põe e tira presidente.

TP: Vocês participaram de dois tributos, um ao Misfits, lançado no Canadá e o outro ao Cólera. Quem escolheu a música que vocês tocaram e como surgiu a oportunidade de participar destes projetos?
Luiz: Bom, o tributo ao Misfits foi através de uns contatos que tenho lá fora, pois já saí com outra banda (o Unfits ) em mais dois tributos ao Misfits por lá. O tributo ao Cólera foi um convite do Rafinha, aceitamos imediatamente pois Cólera, assim como Olho Seco são responsáveis pelo começo de tudo aqui no Brasil.
Nós tocamos dois sons do Cólera nos shows, desde a primeira apresentação a gente toca Gritar e Amnésia. Depois que conheci o pessoal da banda passei a admirá-los mais ainda, são pessoas simples como nós, que poderiam ser arrogantes como uns aí, mas são simples e educados.

TP: Vocês têm meia dúzia de álbuns lançados e o sétimo já está no forno. O que mudou na sonoridade da Antimídia neste período?
Luiz: Na verdade a gente vai lançar o primeiro CD pra valer, os outros eram CDR’s. Esse CD vai ser mais apurado, mais elaborado dentro das nossas condições, ninguém aqui é maestro, mas se esforça para fazer algo coerente. O som está mais agressivo, as letras estão mais consistentes.

TP: Essa agressividade tem a ver com algo que vocês andaram ouvindo?
Luiz: Essa agressividade é o amadurecimento. A gente ouve de tudo um pouco e miscigena isso no som da banda. Estamos ainda em fase de evolução, mas caminhando para um estilo próprio, sem rótulos, sem máscaras. O som do começo para hoje nem se parece mais, não tem mais nada a ver.

TP: Quem escuta o quê na banda?
Luiz: Felipe (vocal) gosta de grind, o André (atual baixista) gosta de coisas como Supersuckers, Johnny Thunder, Dead Boys, Cris curte Dead Kennedys, Ramones, Toy Dolls e eu gosto de tudo, minhas influências são GG Allin, Gwar, Danzig, Frankenstein Drag Queens, mas o que estou ouvindo no momento é Genocide SS. Acho que estamos caminhando para algo parecido com o som deles.

TP: Então podemos esperar agressividade mesmo!
Luiz: Agressividade e letras que falam sobre a falência da sociedade, valores e comportamento. Além de muita TV destruída.

TP: Com esse amadurecimento, como você define hoje o som do Antimidia?
Luiz: Curto e grosso. Se não existe esse estilo, taí acabei de criar.

TP: Como vocês acham que está a cena underground? Espaço para shows...
Luiz: Bom, esse ano a gente esta fazendo bastante coisa. Tem muitos lugares desde que você corra atrás. Uma banda só funciona direito quando todos se empenham e se ajudam. A cena é meio ingrata às vezes, mas quando vale a pena somos muito bem recompensados, não com dinheiro, mas com momentos divertidos. Aqui ninguém quer massagear o próprio ego ou ficar rico, apenas divertir e entreter as pessoas. Desta forma a gente também se diverte. Fora de São Paulo a cena é bem louca, quando se consegue lugares pra tocar, vale a pena, as pessoas te valorizam, te respeitam, o público por menor que seja vai pra se divertir e pra curtir o som.

TP: E a qualidade de equipamento, divulgação?
Luiz: Tem lugares e lugares. Tem casas aqui mesmo na capital que ficam com um puta cú doce pra agendar um sonzinho de merda e quando você chega lá no lugar o cara nem te dá boa noite, você que leve tudo. E tem lugar que você não dá nada, que o cara tem prazer em te ligar e te convidar pra tocar e é impressionante a estrutura do local.
A gente tem tocado muito no Bar do Bal, lá a estrutura ainda precisa melhorar bastante, mais independente disso é onde nos sentimos em casa, adoro aquele lugar.

TP: Sabemos que não dá para sobreviver só tocando hardcore. Em que os integrantes trabalham?
Luiz: Tirando o Felipe que é garoto ainda e só fica na boa vida (hehehehe), o resto da banda rala muito. O Cris é farmacêutico, eu sou publicitário, mas trabalho com seguro e o André trabalha na administração de um hospital em Guarulhos. Ninguém aqui é boy, todos trabalham e se temos algo foi com nosso suor, não caiu do céu e nem filamos de ninguém.

TP: O que vocês pretendem com a banda? É tocar por tocar? Vocês querem alertar as pessoas com suas músicas?
Luiz: Como disse, é difícil que ouçam suas palavras no país do quarto poder (rede globo), mas nos damos por satisfeitos quando um garoto chega e diz que gosta do que falamos e que aquilo o fez refletir. Tocar por tocar não é nossa missão.
A gente quer chamar a atenção sim, mas não sentar no colo da mídia e desse sistema falido de comunicação e fazer parte desse bolo podre onde as pessoas começam com ideais e se vendem por 30 dinheiros.

TP: Então qual é a missão?
Luiz: Desglamourizaçao do artista. Todos somos iguais. Chamar a atenção e se for preciso chocar, fazer barulho, incomodar. A nossa missão é ser um mosquito, incomodar no ouvido da mídia.

TP: Qual foi a maior furada em que o Antimídia já se meteu?
Luiz: Frutal (Minas Gerais). Nunca mais piso lá. Fomos num festival lá esse ano e rodamos 600 km e não nos deram o devido tratamento. Não consideraram que rodamos tanto para chegar lá e ser a banda de número 13 a tocar naquela noite, que devido a uma falta de organização e responsabilidade, somente 7 bandas tocaram. As demais foram prejudicadas e ainda tivemos que ouvir o "organizador" do evento nos apresentar como banda de paulistas filhos da puta. Já era 5 horas da manhã, não havia mais ninguém no evento e nos recusamos a tocar pras moscas. Isso é falta de educação e de civilidade por parte de um infeliz desse.
Então Frutal receba em dobro os elogios que foram proferidos pelo organizador (Maxwell), quero que coloque o nome dele em caixa alta e negrito. Ele sim é tudo aquilo e mais um pouco do que ele nos chamou.

TP: Em compensação qual foi o show mais foda que vocês fizeram?
Luiz: Guarulhos, esse ano, no Bar do Acácio. Foi fodaço! O melhor em 5 anos, pena que o bar fechou. Tocamos no dia 19 de abril, com o M-19 (coincidência ou não). O lugar era pequeno, estava lotadíssimo, brotou gente do piso quando fomos tocar, caíram até em cima da bateria. Troca de energia pura, nunca havia sentido aquilo, fiquei impressionado. No fim do som peguei o microfone e agradeci a todos, nunca tinha feito isso na vida, aquele dia foi difícil me controlar, são esses pequenos momentos que chamo de recompensa, não há dinheiro no mundo que pague essa sensação.

TP: Nas letras a mídia é sempre muito atacada. Mas sabemos da importância da mídia para que a informação chegue a todos os cantos do mundo. O que vocês do Antimídia fariam se ficassem 24 horas com uma rede de tv nas mãos de vocês?
Luiz: Pediria desculpas às pessoas por esses 50 anos de manipulação e de formação de opinião errada. Também apontaria os culpados. O resto do dia passaria todos os episódios de Chaves, crítica ferrenha. Pode parecer hipocrisia, mas prefiro assistir Chaves a ter que ver João Kleber, Netinho, Faustão e Nelson Rubens. Taí uma boa idéia! Mostraria em rede nacional a execução deles todos no paredão, pelos crimes de estarem formando futuros idiotas. A mídia é marrom, ninguém até hoje nos meios de comunicação, veio se desculpar pelo grande erro cometido na Escolinha de Base. Lembram-se? Os profissionais da escola foram acusados de pedofilia, depois de apurado souberam que era tudo armação e não vi ninguém pedir desculpas.

TP: O CD de vocês vai ser lançado por onde?
Luiz: Por nós mesmos, com nosso próprio esforço. Ninguém quer lançar você, se não for amigo de num sei quem, se não tiver contato com não sei quem, é tudo assim hoje. O underground ainda existe, mas pra nós que somos do do it yourself, pros demais é panela de pressão fechada. Tem os donos da cena e nós correndo por fora, tentando nosso lugar ao ponto de luz do underground.
Dói saber que se você não tem um CD lançado e não foi pra Europa fazer shows, você não é ninguém, se isso é underground, então tô fora disso.

TP: É alguém sim e por isso tem a mídia independente, para mostrar a cara de gente como vocês.
Luiz: Ainda bem que tem, não se vendam jamais.

TP: Vocês estão lançando uma coletânea com mais cinco bandas. Qual o nome da coletânea e quais as bandas que participaram dela?
Luiz: A coletânea se chama Pragas dos Arrabaldes. Participam as bandas: Antimídia, Carne Moída, Autocontrole (PR), Esgoto, C.P.A. e Menstruação Anárquika, o legal é a diversificação dos estilos.

TP: Como será a divulgação deste material?
Luiz: As bandas farão vários shows juntas. Pretendemos estender esses shows pra Curitiba ainda esse ano e ano que vem terão mais datas. Faremos uma espécie de turnê com as bandas da coletânea, acho que isso é inédito aqui no Brasil.

TP: Onde serão os próximos shows do antimídia?
Luiz: Anotem aí:
09.10.2004 - CAMPOS DO JORDÃO
16.10.2004 - BAL ROCK BAR - w/ N-Sick and Are You God?
23.10.2004 - BAL ROCK BAR
24.10.2004 - Clubinho (Diadema)
05.11.2004 - GREGUEJÉ ROCK BAR (Interlagos)
13.11.2004 - BAL ROCK BAR
04.12.2004 - UNDERGROUND BAR - (Sorocaba)
11.12.2004 - LOKOLIVE (Praia Grande)

TP: Palavras finais, finais não porque o espaço no TP está sempre aberto para vocês:
Luiz: Bom, queria agradecer a você e ao Rena e firmar os meus elogios ao Total Punk que é um site que não se vendeu ao modismo. Um site que dá espaço pras bandas verdadeiras, que não estão nessa por grana ou fama e sim por ideais, atitude. Quem dera se todos os sites desse mesmo gênero fossem tão honestos e sérios quanto vocês.
Aos leitores do TP, visitem o nosso flog: www.fotolog.net/antimidia e fiquem a par dos shows e das novidades. Dia 29/10 faço uma participação com o BB Allin & the murderbones (cover do GG Allin), no Black Jack. não percam!!!!
"Não à televisão, Satã da comunicação!!!"

Antimídia é:
Felipe: Vocal
Cris: Guitarra
André: Baixo
Luiz: Bateria

Para contatos escrevam: antimidia666@hotmail.com

* Originalmente publicado no extinto site Total Punk em 2004

Veja meu currículo